segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O Botafogo precisa cair - Por Daniel Accioly



Sim, o título é auto-explicativo. E por mais absurdo que pareça compartilhar tal visão com os irmãos alvinegros, escrevo com paixão e argumentos. Diante da lastimável situação na qual nos encontramos, e considerando as alternativas que temos em mãos, acho que não teremos desfibrilador mais eficaz.
            Estamos passando por uma situação que não é nova, e o pior, já nos acostumamos. Antes dos pontos corridos nos anos 90, diversas fórmulas foram experimentadas, desde grupos com repescagem até um turno único com playoffs, e tais formatos não denunciavam a fragilidade de nosso clube, primeiro pelo fato de termos chegado a duas finais em uma década em função de gerações memoráveis, segundo pelo fato de tais formatos sempre privilegiarem os times maiores, fazendo com que pequenas potências fossem condenadas desde o início do torneio. Se por um lado foi possível ver Bragantino e União São João durarem bons anos na elite, foi quase que um sopro a passagem de times como Ferroviário, Desportiva e Ceará. Quando o Botafogo não brigou pelos títulos (leia-se 1992, 1994 e 1995), não corria riscos severos, pois havia meios de se segurar no corrimão. Porém, veio o milênio da verdade.
            Após a adoção dos pontos corridos por uma questão de padronização com o formato internacional estabelecido pela FIFA, o Botafogo se apequenou e as verdades vieram a tona. O que aconteceu e, 2013 foi o que aconteceu com o Bragantino nos anos 90. A tônica das ultimas duas décadas é fechar o campeonato em décimo e planejar o ano seguinte, ou suar sangue na última rodada, “imortalizar” Shwenck e declarar Sandro como o herói da resistência. A diretoria se acostumou com isso, o torcedor idem e o atleta que chega vai aspirar pelo que? “Cheguei no Botafogo, boa vitrine. O foco é conseguir uma trasnferência para o São Paulo ou a Ásia antes de ir junto pra vala.”. 
            É duríssimo dizer isso. Algumas equipes cresceram com o rebaixamento, como Atlético-MG e Corinthians, outras ainda não aprenderam muito e correm o risco de estarem se acostumando a cair, como Vasco e Palmeiras. Só que essas duas podem usar a Taça Libertadores para apoiar os braços enquanto choram.
            Não me condenem. Vou completar no próximo ano três décadas de sangue alvinegro. Escrevo isso como um pai que sabe que o filho cometeu um crime e que merece ser preso, mas que no tribunal, movido pelo amor, torce para o juiz converter a pena em serviços comunitários. Estive em 2003 no Caio Martins diversas vezes. Aquele momento seria o ressurgimento do nosso clube, se no ano seguinte não tivéssemos escapado na última rodada e, com isso, voltado a crer que o nosso destino é esse mesmo. Se cair Botafogo, cairá junto com as máscaras dos políticos que moram em General, junto com as dos que fomentam essa estrutura. E se você cair, Botafogo, eu vou chorar como um pai que vê o filho atrás das grades, mas que de lá não arreda o pé.
           Que atire a primeira pedra quem em seu exercício de busca de solução, não tenha cogitado isso. Nesse momento, ficar na série A apenas parece ser bem menor do que o que está realmente em jogo, que é a decisão sobre o que significa o Botafogo de Futebol e Regatas.