domingo, 27 de julho de 2014

O doutor está - Por Daniel Accioly


Começo esse texto tentando com todas as minhas forças fugir de frases de efeito que habitam o universo da mística botafoguense, mas diante do quadro de extrema calamidade, como pelo menos não pensar na célebre "tem coisas que só acontecem..."? Ou ainda apelar para qualquer linha de raciocínio pessimista com o momento atual do clube, levando em consideração todo o caminho percorrido até então? Após um começo esperançoso, tendo como ápice a contratação de Seedorf e a boa campanha do brasileiro de 2013, que rendeu o clube vaga na Libertadores, a administração de Assumpção vai se encerrando de maneira desastrosa, dando margem para presidentes de outrora abrirem o bico de forma bem ampla. A semana foi recheada de pedradas.

Na sexta-feira (25/07), os presidentes dos 12 clubes grandes tiveram encontro com a presidente Dilma em Brasília. Na oportunidade, Assumpção pediu a palavra e de forma clara e objetiva colocou que a saúde financeira do clube está deteriorada em função do bloqueio do repasse dos direitos de TV, além da penhora das rendas dos jogos em função de dívidas com diversas fontes. A situação é tão periclitante que o mesmo ameaçou retirar o clube da competição, causando de imediato uma onda de chacotas pela rede, e imagino que na mesa da reunião, onde todos os presidentes de outros clubes devem ter no mínimo se escangalhado de rir por dentro. Tal situação é agravada pela exclusão do clube do Ato Trabalhista, dispositivo jurídico que possibilitava o parcelamento das dívidas do clube, que somadas giram em torno dos 700 milhões de reais (o valor no início do mandato do presidente era algo em torno dos 350 milhões). Em plena final de semana de clássico, era o estímulo que estava faltando para todos os envolvidos.

No início da semana, o ex-gerente de futebol Sidnei Loureiro já havia botado a boca no trombone sobre a zona na administração financeira do clube. Loureiro jogou no ventilador que mesmo com o corte de orçamento, os compromissos não foram honrados, que o clima com os jogadores era de constante tensão e que o descrédito já impera faz algum tempo. Não adianta vir com esse papo de que jogador tem que ser profissional, quando uma zona dessa impera. 

Para confeitar ainda mais esse bolo de lama, Bebeto de Freitas, que aparentemente ainda não devolveu o broche presidencial, resolveu se posicionar. Com energia, não poupou adjetivos para o atual presidente, o acusando de não ser homem suficiente para retirar o clube da série A e justificando a atual situação financeira do clube com o fato do dentista ter sonegado 95 milhões de reais. Isso tudo enquanto outros presidentes estão nos bastidores formando e fomentando suas alianças para o próximo pleito.


Para fechar a semana, o time entrou em campo já expondo como a ferida está aberta. Sendo um time bastante limitado e muito aquém do que tínhamos no ano passado, os jogadores brindaram os torcedores que fizeram um esforço para comparecer ao jogo com um futebol deprimente e uma derrota para o moribundo Flamengo. Com isso, o clube exerceu aquela função na qual parece ter se especializado, que é ressuscitar o maior rival quando o mesmo parece estar mergulhado em crise avassaladora. 

Apontar o problema é fácil, sobretudo quando o mesmo está tão ao alcance dos olhos, como é o caso da grave situação atual do clube. Porém, por isso mesmo acredito que a atenção precisa ser redobrada. Não é improvável que em um futuro bem próximo ocorra um cenário muito mais devastador do que o momento em que o clube visitou a série B. Quando o dentista chegou, ser dentista foi questionado por muitos em função da distância aparente da função com os aspectos administrativos que cercam a condução de um clube esportivo. Nada impedia que mesmo assim, Assumpção pudesse compensar tal conjuntura com dedicação e com o investimento na montagem de um staff que o assessorasse de forma profissional. O que o torcedor sente nesse momento é a angústia de estar sentado, incrédulo, quase que como em uma cadeira de dentista, tendo seus dentes arrancados, sem anestesia. Sem anestesia....

 

Encerro esse pequeno apanhado da semana mostrando a nova camisa nº4 do clube. O detalhe fica por conta de um dos patrocinadores, que só seria superado em graça se um dia o Fluminense passasse a ter em sua camisa o patrocínio da Isfahan tapetes persas. 











quinta-feira, 17 de julho de 2014

A primeira impressão é a que fica (mas nem sempre) - Por Daniel Accioly



Após a derrota para a equipe do Sport por 1 a 0 na Ilha do Retiro, os alvinegros nem tiveram tempo para ficar remoendo (mais) tal resultado negativo. Na madrugada de quarta para quinta já ventilava em diversos sites e páginas que Sebastian "El Loco" Abreu estava de volta, dessa vez por empréstimo até o final do ano. Alguns alvinegros (me incluo entre eles) comemoraram, outros lamentaram. Loco Abreu está no final da carreira, dificilmente irá ter o desempenho que teve em sua primeira passagem e em ano de eleição, sabemos que uma contratação dessa pode ter apenas significado eleitoreiro, sendo um afago nos desesperançosos e desinteressados torcedores. Abreu não jogou a Copa do Mundo, apesar de estar fazendo um razoável campeonato argentino, e vem para buscar seus últimos dias de glória como jogador. "El Loco" retorna agora com a missão de reerguer o time da estrela solitária, atualmente na incômoda 14ª colocação do nacional.

Tal cenário fez com que eu me lembrasse de alguns retornos de jogadores importantes que tiveram uma segunda passagem pelo clube. Trago aqui alguns para tentar contribuir com os debates sobre a volta do uruguaio.


Túlio Maravilha
Começo pelo maior ídolo da geração de quem está na casa dos 30 anos. Túlio chegou em 1994 da pouco expressiva Suíça futebolística e tinha em sua bagagem a artilharia do Brasileirão de 89 pelo Goiás. Teve o seu melhor momento na carreira marcando 163 gols em 2 anos. Em 97, Túlio foi para o Corinthians e seu retorno à General Severiano ocorreu em 98, com atuação Menos exuberante, marcando 21 gols. O artilheiro ainda retornaria em 2000, marcando 4 gols em 14 jogos. O tempo foi pesando para o artilheiro, mas mesmo com o declínio de seu desempenho, somos gratos por tudo que ele fez.


Dodô
O "atacante dos gols bonitos" iniciou sua passagem pelo Botafogo em 2001, ficando até 2002. Nesse período, o atacante teve atuações de destaque, dando esperanças ao torcedor. Mas o atleta interrompeu seu primeiro ciclo em função de problemas financeiros do clube. Dodô retornou em 2006 e ficou até o final de 2007 e, mesmo com o caso do dopping,. teve passagem fantástica pelo clube, marcando 90 gols em 124 jogos e dando ao torcedor a impressão de que aquele ano não teria como passar em branco. Ah, como 2007 sai do calendário, mas não sai de nossas mentes...


Donizete
Apesar de atacante, Donizete não possui um histórico de muitos gols (sua média de gols ao longo da carreira foi de aproximadamente 5 gols por temporada). Mesmo assim, foi um grande jogador, sobretudo por dar suporte aos seus companheiros de ataque, se deslocando com velocidade e armando jogadas. Passou pela primeira vez no clube em 1989, sendo um dos destaques do Bi-carioca de 90. Mas sua grande passagem foi em 95, onde ajudou o clube a ser campeão nacional, tendo inclusive jogado a final machucado, por iniciativa própria.


Wilson Gottardo
O nosso atual diretor de futebol esteve presente em duas das maiores glórias de nosso clube, que foi o esperado título estadual de 89, atuando com Mauro Galvão em dupla considerada por muitos a maior que o clube já teve, e em seu retorno ao clube em 94, sendo campeão brasileiro no ano seguinte. Não é possível destacar uma das passagens. Gottardo foi fundamental em ambos os momentos, e é uma pena que não tenha jogado mais tempo em nosso clube (mesmo sendo o Botafogo o clube onde mais atuou).


Jefferson
O nosso representante na seleção está no clube desde 2009 em sua segunda passagem, dando fim ao pior momento que o clube passou em função de goleiros. Na primeira passagem em 2005, o goleiro era jovem e veio emprestado pelo Cruzeiro, após a torcida do time mineiro o condenar por falhas em jogos. Jefferson teve boas atuações em sua primeira passagem, mas não se compara ao segundo momento, onde se tornou a cara do time e candidato à ídolo. Só falta um título nacional para coroar tudo que ele fez pelo clube.


Lúcio Flávio
Peço um desconto aqui aos críticos ferrenhos, em função da importância de Lúcio Flávio para o funcionamento daquele time de 2007. Junto com Jorge Henrique, Zé Roberto e Dodô, "El Pelé blanco" (como foi apelidado prematuramente em passagem posterior no México) foi um dos destaques do time. Seu retorno ao clube foi bem aquém de sua primeira passagem, brindando a torcida com lentidão e displicência. Mesmo assim, fez parte do elenco da campanha do estadual de 2010, ficando em segundo plano, vendo Jefferson, Herrera e Loco Abreu liderarem a conquista emblemática.


Maicosuel
Maicosuel impressionou com seu início no clube, em 2009. tanto que rapidamente despertou interesse do mercado europeu. Não se adaptando em terras germânicas, o atleta regressou ao Botafogo, onde teve uma infeliz lesão logo no início de sua segunda passagem, em 2010. Mas aos poucos foi reconquistando prestígio a ponto de novamente fazer as malas para a Europa. Atualmente, retornou ao Brasil para o Atlético-MG e teria vaga fácil em nosso atual time.


Sérgio Manoel
Um nome que muitas vezes fica ofuscado nos registros históricos mais preguiçosos, mas que foi responsável pela forma dinâmica e organizada como o time jogou em 1995. Excelente cobrador de falta, chegou ao auge da carreira em nosso clube, quando chegou a ser convocado para a seleção brasileira. Em sua segunda passagem em 1998, já não conseguiu repetir as mesmas atuações, mas ainda sim compôs bom time, com Bebeto e Túlio. Passaria em 2006 ainda de forma apagada em função da idade, mas não por falta de vontade.

Esses atletas foram apenas alguns dos quais me recordo. A segunda e possivelmente última passagem de Loco Abreu pelo Botafogo dificilmente será tão brilhante quanto a primeira por uma questão meramente fisiológica. Mas tenho sim esperança que com o seu estigma, as equipes adversárias joguem não com medo, mas pelo menos com um pouco mais de respeito, lembrando quem sabe que estão diante do Botafogo, aquele do Túlio, do Gottardo, Donizete....

ATUALIZAÇÃO: Apesar de boa parte da imprensa dar o negócio como fechado, Abreu preferiu cumprir seu contrato com o Rosário Central (ARG) até o final. Com isso, um retorno de "El Loco" só será possível (se for possível) a partir de 2015.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O verdadeiro teste pra cardíaco vem agora - Por Daniel Accioly



O Brasil vive a ressaca que sempre se sente após uma Copa do Mundo. A ressaca dessa vez parece mais intensa em função do mundial ter sido em terras tupiniquins, além da forma melancólica como o escrete nacional se despediu do torneio. Mas agora faltam poucos dias para nós alvinegros retornarmos à nossa depressão anual, que tanto adoramos: O Campeonato Brasileiro.

Durante a Copa, o clube não parou, e o resumo dos principais fatos vale ser citado para àqueles que só respiraram seleção brasileira. Logo nos primeiros dias de mundial, recebemos a notícia de que Yuri Mamute, revelação de 19 anos do Grêmio faria parte do elenco até o final do ano. Nome folclórico que já irrita de cara, mas nem por isso deixaremos de ter paciência com a aposta. Enquanto isso, o São Paulo tratava de mexer os pauzinhos para repatriar Kaká para reforçar o já intimidativo time. Apesar de não estar desempenhando entusiasmador futebol, Lodeiro deixou General Severiano rumo ao Corinthians. Lodeiro não resolvia nossa vida, mas quem entra no lugar dele? Enquanto isso, Risso e Sassá foram ganhar bagagem no Náutico.

E mais baixas foram ocorrendo, como foi o caso de Octávio, que foi emprestado para a Fiorentina (ITA) por um ano, com opção de compra por parte do time italiano por 2 milhões de euros, fortuna que certamente resolveria os problemas do clube (só que não). A segunda e última contratação do período foi a do jovem João Gabriel, vindo do Matonense. Enquanto isso, o Vasco anunciava Kléber Gladiador para reforçar o elenco para a Série B. Maicosuel foi novamente repatriado, dessa vez pelo Atlético-MG. Isso sem contar com a entrada em massa de jogadores estrangeiros no país no período, como os argentinos Héctor Canteros (Flamengo), Matias Rodriguez (Grêmio), Martin Luque (Internacional), Pablo Mouche e Fernando Tobio (Palmeiras), além do paraguaio Angel Romero (Corinthians).

Se formos falar da intertemporada, enquanto o Fluminense tomava uma sacolada da seleção italiana, o Atlético-MG ia para a China jogar uma bolinha contra times locais e vencer o Guangzhou Evergrande (campeão da Champions asiática), São Paulo ia estendendo sua marca e medindo forças contra times dos EUA, onde Cruzeiro também esteve, o Botafogo fazia seus ajustes em jogos-treino contra Madureira (derrota por 4x2), Artsul (vitória por 2x1) e São Gonçalo (vitória por 4x1). Espero com sinceridade que o Mancini tenha conseguido tirar bom proveito desses jogos, apesar da qualidade das equipes adversárias.

Uma das novidades boas que envolve uma aposta de risco, apesar de envolver um personagem de altíssimo nível, foi o anúncio de Wilson Gottardo como diretor de futebol do clube no lugar de Sidnei Loureiro. Gottardo possui muita identificação com o clube, mas vai ter que mostrar muita diplomacia em um cargo de alta politicagem. Sendo o ex-zagueiro um cara que sempre prezou a correção, devemos esperar para vermos se o sistema o vencerá ou um novo modelo administrativo vingará no clube. O clima político dentro do clube é intenso, e a insatisfação parece dar o tom das correntes internas. Maurício Assumpção sairá com o prestígio totalmente em baixa em seu final de mandato, provavelmente sem responder (de forma objetiva e honesta) as questões sobre o Engenhão e sobre o balanço do clube. Toda movimentação política dentro do clube é digna de atenção, sobretudo quando sabemos que José Rolim, Carlos Augusto Montenegro e Mauro Ney Palmeiro estão na área, os dois últimos desenhando uma nova frente. Sempre há carne para se roer no osso.

A Copa não parece ter sido abençoada para o Botafogo, não vimos o Jefferson ser prestigiado e ainda parece que retornaremos mais fracos para o restante do campeonato. Ah, e a última é que em função da impossibilidade de Jefferson jogar e pela aparente resistência de Renan em assumir o gol, iremos do jovem Andrey contra o Sport, em plena Ilha do Retiro. Haja coração!