Começo esse texto tentando com todas as minhas forças fugir de frases de efeito que habitam o universo da mística botafoguense, mas diante do quadro de extrema calamidade, como pelo menos não pensar na célebre "tem coisas que só acontecem..."? Ou ainda apelar para qualquer linha de raciocínio pessimista com o momento atual do clube, levando em consideração todo o caminho percorrido até então? Após um começo esperançoso, tendo como ápice a contratação de Seedorf e a boa campanha do brasileiro de 2013, que rendeu o clube vaga na Libertadores, a administração de Assumpção vai se encerrando de maneira desastrosa, dando margem para presidentes de outrora abrirem o bico de forma bem ampla. A semana foi recheada de pedradas.
Na sexta-feira (25/07), os presidentes dos 12 clubes grandes tiveram encontro com a presidente Dilma em Brasília. Na oportunidade, Assumpção pediu a palavra e de forma clara e objetiva colocou que a saúde financeira do clube está deteriorada em função do bloqueio do repasse dos direitos de TV, além da penhora das rendas dos jogos em função de dívidas com diversas fontes. A situação é tão periclitante que o mesmo ameaçou retirar o clube da competição, causando de imediato uma onda de chacotas pela rede, e imagino que na mesa da reunião, onde todos os presidentes de outros clubes devem ter no mínimo se escangalhado de rir por dentro. Tal situação é agravada pela exclusão do clube do Ato Trabalhista, dispositivo jurídico que possibilitava o parcelamento das dívidas do clube, que somadas giram em torno dos 700 milhões de reais (o valor no início do mandato do presidente era algo em torno dos 350 milhões). Em plena final de semana de clássico, era o estímulo que estava faltando para todos os envolvidos.
No início da semana, o ex-gerente de futebol Sidnei Loureiro já havia botado a boca no trombone sobre a zona na administração financeira do clube. Loureiro jogou no ventilador que mesmo com o corte de orçamento, os compromissos não foram honrados, que o clima com os jogadores era de constante tensão e que o descrédito já impera faz algum tempo. Não adianta vir com esse papo de que jogador tem que ser profissional, quando uma zona dessa impera.
Para confeitar ainda mais esse bolo de lama, Bebeto de Freitas, que aparentemente ainda não devolveu o broche presidencial, resolveu se posicionar. Com energia, não poupou adjetivos para o atual presidente, o acusando de não ser homem suficiente para retirar o clube da série A e justificando a atual situação financeira do clube com o fato do dentista ter sonegado 95 milhões de reais. Isso tudo enquanto outros presidentes estão nos bastidores formando e fomentando suas alianças para o próximo pleito.
Para fechar a semana, o time entrou em campo já expondo como a ferida está aberta. Sendo um time bastante limitado e muito aquém do que tínhamos no ano passado, os jogadores brindaram os torcedores que fizeram um esforço para comparecer ao jogo com um futebol deprimente e uma derrota para o moribundo Flamengo. Com isso, o clube exerceu aquela função na qual parece ter se especializado, que é ressuscitar o maior rival quando o mesmo parece estar mergulhado em crise avassaladora.
Apontar o problema é fácil, sobretudo quando o mesmo está tão ao alcance dos olhos, como é o caso da grave situação atual do clube. Porém, por isso mesmo acredito que a atenção precisa ser redobrada. Não é improvável que em um futuro bem próximo ocorra um cenário muito mais devastador do que o momento em que o clube visitou a série B. Quando o dentista chegou, ser dentista foi questionado por muitos em função da distância aparente da função com os aspectos administrativos que cercam a condução de um clube esportivo. Nada impedia que mesmo assim, Assumpção pudesse compensar tal conjuntura com dedicação e com o investimento na montagem de um staff que o assessorasse de forma profissional. O que o torcedor sente nesse momento é a angústia de estar sentado, incrédulo, quase que como em uma cadeira de dentista, tendo seus dentes arrancados, sem anestesia. Sem anestesia....
Encerro esse pequeno apanhado da semana mostrando a nova camisa nº4 do clube. O detalhe fica por conta de um dos patrocinadores, que só seria superado em graça se um dia o Fluminense passasse a ter em sua camisa o patrocínio da Isfahan tapetes persas.