Já
passava da meia-noite. Estava eu e minha irmã na Tijuca comendo um cachorro
quente na rua. Um dia no qual futebol era longe de ser algo de minha pauta.
Afinal, mesmo que fosse pra secar, parecia inglório. Mas a cena de um mar de
flamenguistas cabisbaixos, sem entoar nenhuma música. Um silêncio sepulcral que
me chamou atenção. Chegando em casa, fiquei em fim sabendo que ocorreu mais um
milagre promovido pelo Atlético Mineiro. Eu riria em outros tempos se ouvisse
falar algo similar, pois o time de minas era o meu álibi.
Sei que o Brasil possui 12 clubes considerados grandes.
Quando nesses quase 30 anos de Botafogo a situação do clube me fazia sentir o
fundo do poço, lembrava que o clube
mineiro passava por um calvário maior. Afinal, o título nacional mais
representativo era de 71 e o acúmulo de insucessos e garfadas fazia lembrar o
nosso clube, mas em uma escala maior. Não importava se estatisticamente o CAM
possuía mais torcida. Me sentia sim no direito de rir de um clube que
naufragava em todos os nacionais e que tinha que aturar o seu maior rival como
multicampeáo nacional e internacional. Esse tempo acabou.
O exemplo do Atlético é para copiar sem medo de parecer
pequeno. Um clube que caiu pra segunda divisão e agora é sinônimo de causas
impossíveis. Tais causas tem ligação com a torcida, mas a torcida só se
conectou quando viu a diretoria se coçar. Kalil é uma figura folclórica, mas
não mediu esforços nesses anos para tentar trazer o melhor para o Atlético,
como o goleiro Victor, que ele tirou do Grêmio sem querer saber se Grêmio é
grande ou não. Assim como Ronaldinho, que ele teve coragem pra trazer e pra
mandar embora, quando o jogador se ambientou além da conta às regalias do
clube. Claro que Kalil é apontado como quem tem o mérito, assim como já fizemos
com o senhor Assumpção. O que deixamos pra depois em nosso clube foi o que o CAM não deixou em investimento em
estrutura. Com um dos Cts mais modernos do país (e quem sabe do continente), o
clube trabalha com eficácia e tranquilidade. Ainda parece irreal imaginar o
time de minas campeão brasileiro por uma questão de estigma. Mas você que está
lendo viu junto comigo o Fluminense ir para a série C e de repente virar um
forte candidato todo ano (por motivos diferentes do clube mineiro, e em
resultado que imagino ser finito). O
texto de hoje não precisa ser muito embasado com estatísticas, pois os fatos
trazem um simples e único sentimento: Queria ser Atlético um dia.
E sobre nossa atual situação, acho que é redundante falar. O melhor cenário ainda sim é humilhante.